Quinta-feira, 5 de Agosto de 2004
Minha querida,
Tem sido estranha esta nossa relação.
Como podemos ser tão diferentes, sendo tão próximas no parentesco?
Como entender o teu desapego sem sentir mágoa?
E no entanto...tu estás próxima, mesmo distante.
Ou será ao contrário?
Já te disse como fiquei feliz quando nasceste. Na turbulência dos meus 15 anos o teu aparecimento tranquilizou-me, fez-me acreditar mais no mundo, nas pessoas, em ti, que acabavas de chegar a esta família trazendo, no teu olhar o espanto que tanto enternece os mais velhos...
Tentei chegar perto de ti, tu crescias e eu brinquei contigo. Embalei as tuas bonecas, partilhámos brincadeiras, jogámos jogos inventados por ambas. E comecei a contar-te estórias. Dei-te os meus livros de criança procurando vislumbrar, em ti, algum do fascínio que em mim brilhara, outrora. E vibrei quando ele surgiu. Falávamos de personagens como se falássemos de pessoas...
Durante a separação geográfica eu sorria quando te enviava pelos correios livros de banda desenhada que sabia apreciares. Escrevia-te. Esperava o Natal enfeitando o coração...
Cresceste, claro.
Agora és uma das pessoas mais autónomas que conheço.
E tens aquele traço de personalidade que tanto me confunde: a tua memória dos afectos é tão esbatida...Eu, que retenho pormenores que não lembram a ninguém, eu a quem os amigos pedem vou contar-te isto porque sei que não vais esquecer, por favor lembra-me quando eu claudicar/ precisar, espanto-me com a tua ausência de quinquilharia de lembrança emocional...Com vinte e poucos anos eu já tinha tantas e tantas gavetas cravejadas de memórias...
Quando o desespero te esmurrou esse rosto, tão suave, pediste-me desculpa e eu não percebi...nada tenho a desculpar-te além do teu desprendimento...E isso não carece de desculpa...Eu estendi-te a mão, declarei-me disponível (como se não o soubesses...) e recuei para tu fazeres o teu luto como preferiste.
Desculpa, hoje deu-me para a pieguice.
Talvez por ter estado recentemente em locais que ambas amámos, em simultâneo ou em tempos diversos.
Talvez por ter visto fotografias do teu crescimento.
Talvez por nunca teres aceite, depois de adolescente, o colo que tantas vezes te ofereci.
Continuação de uma boa estada nessa praia deslumbrante.
Amanhã irei a tua casa regar as plantas que tanto amas.
Um beijinho,
Dora
De Fly_away a 5 de Agosto de 2004 às 22:40
ok wind. Antes de falares sobre eles tens de saber reconhecê-los. Certo? Exemplo: imagina que estas a descrever uma peça de futa a alguém, e descreves um pêssego mas... estás a olhar para uma melancia.... Com os sentimentos, é o mesmo. Se estas a sentir "raiva", não podes descrever... "ansiedade"....
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