Terça-feira, 17 de Agosto de 2004

Amantes de vão de escada

Romeu.

Esta é uma carta que nunca escrevi. Se alguém afirmar o contrário, eu nego. Esta é a carta que nunca enviei e que nunca deitarei fora.

Não sei porque escrevo, tenho esta mania de fazer as coisas sem pensar, apenas por impulso. E como os impulsos são sempre verdadeiros, acredito neles.



Passei por aqui um dia destes e li, entre outras cartas, uma carta feita lágrima perdida, feita lamento, fosse ou não produto da ficção.

Li mais tarde as cartas dos amantes, do primeiro ao quarto. Não sei se haverá mais algum amante que apareça por aqui e se manifeste. Mas li inteirinhas essas cartas-ficção. Esta mulher é fogo, porra, já vai em quatro.



Escrevo motivado pela coincidência, não porque tenha descoberto que alguém tem quatro amantes (até ver), mas pela semelhança das situações.


Eu traduzo, posso?

É 'similiante' a natureza das palvras, das mágoas, das marcas, das dores, dos amores e desamores, dos acontecimentos, das confissões, das ironias. É semelhante a semalhança (irra, fiquei redondo com esta tirada).



Mas adiante ... Estava eu um dia destes, 'no silência da noite' (esta saiu bem), 'juntando o antes e o agora' e lembrei de mim. Lembrei que também fui um amante de alguém. E neste filme das lembranças, ou como quem diria neste 'flashback of memories', lembrei momentos.



Lembrei alguns telefonemas que ela me fazia utilizando um segundo telemóvel que comprara para despistar o marido. Lembrei algumas mensagens que me adoçaram o ego, quase me fazendo acreditar que viva um amor secreto comigo. Lembrei os tempos livres que não tínha para justificar as ausências, das promessas de partilhar mais tempo comigo, dos raros fins de semana que passámos juntos, por causa de um marido que também só tinha tempo para ela nessas alturas.



Ah!!! Lembrei aquelas cartas feitas canção desesperada que me escreveu com uma quase dor de alma. Aqueles, 'obrigado por existires na minha vida', ou aquela canção da bandida entoada melodidamente e adocicada com um mel expressso por um 'espero que o sol te abrace mais que este solito e que não te faça esquecer de mim ... abraça a vida por mim e sorri sempre meu querido... um doce beijo da tua menina'.



Lembrei ainda, quando ao telefone, num sussurro saído daqueles lábios sempre húmidos, me dizia lentamente 'adoro essa voz de mel que me envolve e me entranha'. Ou aquela frase batida pronunciada com ares de tristeza e cito,'vou passar o fim de semana com ele, mas levo-te comigo'.

Óh deus dos deuses, não é uma delícia?



Mas afinal havia outro. Não sei se quatro, ou mais, ou menos. Mas havia outro amante. Que fazer? Ignorar? Jogar ao faz-de-conta? Chorar? Lamentar-me? Buscar culpados?Continuar a aproveitar aquela lasca?



Não se maquilhava, era como saborear a fruta ao natural. Sem adubos, sem aditivos.



Mas um dia, numa noite de lua cheia (travez!!! ca lindo...), bate um daqueles impulsos precisamente no momento em que de dedos entrelaçados nos fundíamos em orgasmos, qual rio de prata cor da lua, e murmuro-lhe baixinho no ouvido, 'igualzinho a ti, eu não presto'.

Acho que ela nunca entendeu ou nem terá ouvido.



E foi o princípio do fim de uma estória de amantes de vão de escada, que dançaram descalços na praia, feitos miúdos, e se amaram em elevadores, motéis, bancos de jadim, na casa dela, na minha casa e em tantos outros lugares.



Hoje, quando 'às vezes no silêncio da noite' recordo o depois, sei porque não caí. Não deixei sequer sentir a picada. Não houve lamento, nem lágrima perdida. Assim não doeu.



Amante é tabém um estado de espírito. Não basta sentir o peso do outro, cheirar a sua pele, mordiscar-lhe o lábio, sorrir-lhe.



Vá, meninas e meninos, nada de lamentos, não usem mais desculpas para prolongar o sopro que restar. Partam para outra.

As pessoas não se substituem, concordo. Mas lá diz o povo, um amor cura-se com outro amor.



Beijos e abraços envenenados.



Nota: esta carta que não escrevo, é pura realidade e qualquer semelhança com a ficção, é pura coincidência.





































publicado por floreca às 15:12
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11 comentários:
De atuaLolita a 18 de Agosto de 2004 às 18:40
Todas as pessoas que amam. Amantes. Todos nós. Um beijo sem veneno. :-)


De floreca a 18 de Agosto de 2004 às 15:12
Ó Benenoso, há muitas formas de ser "jeitosinho"... eheheh


De Fly_away a 18 de Agosto de 2004 às 15:11
Foi um elogio, sim senhor!


De veneno a 18 de Agosto de 2004 às 15:07
Jeitosinho? lol É um elogio concerteza, mas tomo-o por mais um mimo da ternurenta da Floreca :)
Eco-degustador? não foi um elogio concerteza :)
LetrasAoAcaso, nada de desistir, um sorriso, muito veneno e tá a andar. Mainada.


De floreca a 18 de Agosto de 2004 às 14:15
Também reparei nessa frase, Fly;-)


De Fly_away a 18 de Agosto de 2004 às 13:23
É pá, não gostei nada desse sabor amargo. Andá cá, qué'que se'passa?... Isto aqui há remédio para tudo, pazinha. Já foste ver a sorte da vanessa no nosso levemente irónico? Aquilo é que é uma miuda com má sorte! Vai lá ver!


De LetrasAoAcaso a 18 de Agosto de 2004 às 12:56
E eu escrevo uma carta de despedida.
O "Letras" chegou ao fim do caminho.
Pelo vosso carinho, bem hajam.
Sorte neste projecto.
Abraços fortes.
Parto com um sabor amargo.


De Fly_away a 18 de Agosto de 2004 às 11:44
Ele é jeitoso, Floreca?... Onde... Quando... Porquê...? :) Nesta carta, o que mais gostei foi da frase: "Não se maquilhava, era como saborear a fruta ao natural. Sem adubos, sem aditivos". Este veneno é com certeza um eco-degustador do género feminino.


De floreca a 17 de Agosto de 2004 às 18:51
Ó Fly_away, este que até é jeitosinho, parece que não quer nada comigo!!! Benenoso, espero que isto esteja à maneira, que tu deixaste a casa toda desarrumada!!! E nunca tinha reparado como escreves bem... gostei muito da carta, mas é como a Fly disse, é fácil escrever quando descobrimos o antídoto...


De Fly_away a 17 de Agosto de 2004 às 16:09
Só mais uma coisinha: ah os impulsos são sempre verdadeiros?!... Não sabia. Mesmo assim: nota máxima. :) (Estava a brincar. Gostei muito).


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