Domingo, 22 de Agosto de 2004

Carta em papel vegetal.

Encontrei uma folha de papel à minha porta. Tão perto da minha porta. Vivo tão perto do mar que oiço os seus sussurros de desejos de maresia. . Vivo tão perto da linha de comboio que me desafia viagens que ainda não fiz. Vivo tão perto do céu que me traz a lua que eu sonho plena como o ventre de uma nova paixão.

Sonho…palavras atiradas ao ar. Estão escritas na carta por escrever. Começa assim.

Meu insustentável mistério das palavras por descobrir

Eu ainda não regressei. Nem sei bem para onde devo regressar... Gosto das imagens que crias e das pontas soltas que deixas para eu apanhar. Não sei se sabes, mas constróis poemas e estorias que me apetecem contar. Passeio-me na nostalgia das paragens num apeadeiro a meio de uma viagem de comboio. Nunca sei bem que comboio irei apanhar a seguir....
Ontem estive triste, talvez por sentir que perdia o comboio do meu desejo, mas nada melhor que atafulhar o carro de crianças, sandes de atum, adolescentes e cds de rock bem intenso, para espantar a tristeza... Fico tão cheia deles todos que até me esqueço de ver as tabuletas dos comboios que vão passando. E levo-os até ao mar…Alimento-me dos seus sorrisos…. Alimento-me das suas alegrias breves...

Não sei nunca onde devo sair do comboio….

Havia mais palavras no outro lado da folha de papel…Feitas de mistérios e vontades cor de mar...

Passou por aqui um comboio a vapor, o maquinista vinha tão deprimido e angustiado, que até metia dó. Tentei falar com ele para ver se o acalmava (sim, porque é perigoso andar a conduzir comboios naquele estado de angustia). Mas o homem só dizia que se tinha distraído a ler umas cartas virtuais, e não sei que mais que ele dizia (ele atafulhava as palavras, tal o estado em que estava, algumas nem percebi bem. Parece que era qualquer coisa, tipo irónicas ou eróticas, não sei bem, mas dito naquela gaguez, não era fácil. Dizia ele que se tinha distraído e não tinha parado nos apeadeiros todos, e que tinha deixado para trás os passageiros, e que não podia ser, e que tinha a carruagem vazia, e que aquele não era um comboio qualquer, e, e, e, ....

Finalmente consegui que acalmasse um pouco, mostrei-lhe o ramal onde podia inverter a marcha, e ele partiu mais calmo, prometendo que agora iria estar atento às meninas doces e belas que encontrasse nos apeadeiros onde não parou, e estar particularmente atento às que acenassem com guardanapos de papel manchados de vestígios de atum.

Perto da praia, nada melhor do que escutar um Búzio, numa noite de luar, bem pertinho das ondas. Talvez ele te diga o caminho a seguir, e o apeadeiro onde sair.


Acordo do sonho.. acordo?
publicado por floreca às 01:40
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18 comentários:
De Carla a 25 de Agosto de 2004 às 08:07
Um sonho destes deve durar a vida inteira... Acho que vale a pena. Beijo grande.


De atuaLolita a 23 de Agosto de 2004 às 19:14
Olha.. podemos comentar e responder e tudo e tudo??? E agora? Agora esqueci-me de tudo que tinha para escrever. deixa-me mas é continuar o sonho. Beijos doces a todos que me (nos)leram....


De ognid a 23 de Agosto de 2004 às 18:33
xa cá aproveitar enquanto o sapo deixa... se não te apetece acordar (e, pelo que li, parece teres boas razões para isso) não acordas. Sonha.


De atuaLolita a 23 de Agosto de 2004 às 16:53
chOURAS, eu cá também estranhei. Será que o Freud já não é o que era??? Que pena....


De atuaLolita a 23 de Agosto de 2004 às 16:52
Austro, por favor incomoda sempre... Felizmente existem excepções... Mas não entendo a tua última frase... Quem incomoda quem? Tu a mim ou eu a ti? As "voltas" que a língua portuguesa dá....:-) Agora a sério. Obrigada pelo Mia Couto. (eu também prometo não voltar a incomodar... até me esquecer da promessa)


De Austro a 23 de Agosto de 2004 às 16:38
Tinha prometido não voltar a comentar neste blogue. Esta é a excepção (a tal que justifica a...). O Mia Couto "inventa" palavras, (a)tu(a) Lolita fazes do desperdicio, um sonho. Viole"ntamente" violado. Vicios privados, públicas virtudes. Prometo não voltas a incomodar. :)


De chOURIÇO a 23 de Agosto de 2004 às 16:35
Olhe que não, olhe que não! Ó Voa_pa_longe, pá, uma pergunta: havia alguma distinção, para Freud, entre o divã da psicanálise e o divã das quecas? Não me parece...


De atuaLolita a 23 de Agosto de 2004 às 15:47
Chouras, mas essa tua mania de fechar os belogues não será de estranhar? Queres que te mande aí o Freud? Será que ele explica? Ora sai um divã para o Sr Chouriço....


De Fly_away a 23 de Agosto de 2004 às 15:39
Chamei sim, sim Freud. Anda cá, ainda tens aquele teu divã?... Não, não é o da queca, gaita! É o da psicanálise. Preciso dele. Emprestas-mo por uns dias...? É que tenho aqui um sonho para dissecar. Thank's. Manda-mo por FeDex, e pede que seja o Tom Hanks a fazer a entrega.


De chOURIÇO a 23 de Agosto de 2004 às 15:10
Não. Encerrámos este belogue até 3 de Dezembro, por razões óbvias. Voltem nessa data. Obrigado.


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