Domingo, 9 de Maio de 2004

Meu amigo:

Encontrei o teu primeiro livro de poemas e é por isso que te estou a escrever. Deves lembrar-te daquele livrinho que saiu como edição de autor e deu a todos os que gostavam de ti tanto orgulho. Relê-lo fez-me lembrar de como tu eras, de como nos divertíamos, daquele grupo de gente um pouco louca e idealista, naqueles anos 70-80, em que defender causas ainda não era algo que se olhava de lado… Nós tínhamos vivido a revolução e acreditávamos ser possível ainda salvar alguma coisa. Lembras-te daquelas reuniões em que te pedíamos para cantar? Tu agarravas na viola e entoávamos todos as tuas Quadras de Abril que já conhecíamos de cor:

“Prometi-te uma flor
da cor da liberdade
e Maio floriu mais cedo
nas ruas da cidade

prometi-te um sorriso
mais puro que de criança
e Maio floriu mais cedo
derramado em esperança”

Lembrar isto agora parece um sonho que nem sei se sonhei… O amor pela tua mulher era algo que nos enternecia, tal como a forma carinhosa como trazias as duas filhas para a creche. Eras para muitas o homem perfeito. As mulheres gostam muito dos homens que não têm medo de mostrar o seu lado feminino. E nós gozávamos: “Mantém-te fiel, homem, isso é mais de metade do teu charme”
A vida foi passando, tu mudaste de emprego, mas continuávamos a ver-nos de vez em quando. E no dia da mulher, no Natal, nos anos, chegava sempre um poema, a tua forma de te expressares melhor. Foste subindo na tua carreira e os poemas começaram a rarear. Os telefonemas, as mensagens foram desaparecendo. Subiste mais e quando conseguia falar contigo achava-te desiludido, resmungão. A confiança política é exigente e também nos atira para o lado quando o sentido do voto muda. Mas conseguiste manter um cargo importante e, neste momento, sei onde está aquele que tu és agora. Mas o outro, o que tu eras ,ainda vive dentro de ti?
Desculpa lá roubar o teu tempo. Vou reler os teus poemas. Um beijo



Nota: o excerto do poema “Quadras de Abril” é de Luís Filipe Duarte
publicado por floreca às 11:47
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De almar a 9 de Maio de 2004 às 19:08
Lolita, há de facto percursos muito parecidos. Quantas vezes nos parece reconhecer num texto alguém que conhecemos e era exctamente assim...


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