Ter ficado afundada nas paredes do meu palácio durante estas semanas conseguiu trazer para o exterior as emoções que não teria sentido se tivesse estado ausente. Como um peixe vê o céu azul sob as lentes do oceano: e parece-lhe turvo esse mundo que é, afinal, límpido e claro...
Porém, desta forma, consegui vislumbrar com espantosa beleza um sem número de coisas mágicas onde passa uma vida que não passa no comum.
Vi passar o mundo desnorteado, desarrumado, provocante. Senti pessoas reais, outras virtuais; li cartas, sonhos, palavras; senti gargalhadas, recortes de jornais, postais ilustrados, desenhos desanimados... E cada um tinha o seu rumo, o seu destino, a sua missão algures.
Encontrei pessoas vaidosas, em duas mais palavras: ma-ra-vi-lho-sas no seu estar e sentir.
Cruzei-me com egotismos, paixões, altruísmos, ruínas, castelos, abismos, e novos caminhos para outras vidas, outras patamares...
Numa palavra: emoções.
Nestas semanas de profundo isolamento ouvi o meu pensamento a pensar. De vez em quando, interrompido pelo cheiro de um sonho não vivido, tinha o meu vestido azul sentado na cadeira e ele olhava para mim dizendo: sou a tua pele, veste-a.... vem comigo...
Sobretudo, passaram pessoas importantes na minha vida. Tinham sorrisos, sol, e com elas partilhei a chuva.
A Floreca é um jardim onde o cheiro é silencioso e tem sempre tempo para escutar.
A_Dora, um sem fim de questões... por perguntar.
O Zezusco, beijou-me ao de leve no canto do lábio.
O Veneno, deixou perguntas desenhadas no tempo.
A Lola, deu-me um moinho mágico que anda ao sabor do vento e onde ainda se faz pão, pão verdadeiro para ceia. E não me contou estórias de encantar, mas levou-me a uma praia que tem cores, magia e lagartixas.
Pessoas que vi em muitas noites sem luar, neste canto alheado, rodeada de quadros d’anjos e sonhos ... E assim, numa teia de afectos... eles estiveram junto de mim.
Beijos,
Fly.
. Pausa
. Esta carta é dirigida aos...
. MIMO