Segunda-feira, 9 de Agosto de 2004
Olá meu querido
Imagina que te escrevo esta carta sem papel nem caneta. Imagina que nem estou aqui, nem lá longe, nem em nenhuma parte. Imagina que nem tenho computador, porque na minha enorme sapiência de vida, carreguei no botão onde ninguém deve carregar
E originei um curto-circuito nas minhas comunicações. Fiquei cega, surda e muda. Mas era um botão. Daqueles que temos de carregar pelo menos num dia da nossa vida.
Escrevo-te então sem suporte. Como se fosse um baptismo de voo de para pente. Que ainda não fiz, porque me falta sempre tempo para não fazer nada. Porque me falta sempre o tempo para dizer a quem amo, coisas tão parvas como.. gosto de ti.
Gosto de ti, porque sim. Gosto de ti, porque existes, pode ser? Gosto de ti porque me escreveste as mais belas cartas que já recebi. Gosto de ti porque me dizes que de qualquer coisa eu faço um poema. Gosto de ti porque das tuas cartas faço epopeias e bilhetes de amor e diálogos de vizinhos, e faço estórias que te roubo sem pudor. Porque tu deixas que eu te roube a alma.
Gosto de ti porque tu és um diamante em bruto e nem sabes quanto custa um anel de luxo. Gosto de ti porque és uma estrela-do-mar e nem sabes de que cor é o meu desejo de novos mares. Gosto de ti porque sabes mais de mim que eu. E nem o sabes. Gosto de ti, porque é tão fácil amar-te e tão difícil fazer-te feliz
Gosto de ti porque me apetece proteger-te, como se fosses o meu mano mais novo. É um amor incestuoso, eu sei, mas se o Eça permitiu que a Maria Eduarda e o Carlos se amassem daquela forma despudorada, porque não posso eu sonhar contigo em risos e carícias cor de pele? Porque para além da tua gargalhada que me faz feliz, és lindo como as manhãs de verão e as tardes de Outono.
Gosto de ti porque sim. Porque és como eu. Porque não preciso de te dizer que te amo. Porque não preciso que me digas que me amas. Basta que existas. Basta que me prometas que nunca me deixas. Basta que me prometas que nunca te deixas
(nunca é tão breve.. a promessa que eu quero dura apenas o momento em que me amares quando leres esta carta.. o resto é por tua conta)
Beijos, sorrisos, abraços e um raio de sol para ti
tua
V.
Domingo, 8 de Agosto de 2004
(...)
eu gosto muito de ti, muito mesmo, com um carinho enorme, uma amizade enorme
será que te amo? não sei, meu querido, não sei qual o limite entre o que sinto e o amor...
lembras-te que foste tu que tanto insistias nisso? tanto querias que te dissesse "amo-te"???
é claro que não estou a mentir, se te disser que te amo... tal como tu também não mentes quando o dizes
é uma forma de amor
(...)
Encontrei estas palavras guardadas num cantinho especial...

Sexta-feira, 6 de Agosto de 2004
Querem saber o que descobri?
Então não é que há um
blogue que anda a publicar o meu diário?
Em forma de folhetim, ainda por cima!!!
Não acho isto nada correcto, andarem a tornar pública a vida de uma mulher.
Ainda gostava de saber como tiveram acesso aos meu mais íntimos desabafos!
Vanessa
Quinta-feira, 5 de Agosto de 2004
Minha querida,
Tem sido estranha esta nossa relação.
Como podemos ser tão diferentes, sendo tão próximas no parentesco?
Como entender o teu desapego sem sentir mágoa?
E no entanto...tu estás próxima, mesmo distante.
Ou será ao contrário?
Já te disse como fiquei feliz quando nasceste. Na turbulência dos meus 15 anos o teu aparecimento tranquilizou-me, fez-me acreditar mais no mundo, nas pessoas, em ti, que acabavas de chegar a esta família trazendo, no teu olhar o espanto que tanto enternece os mais velhos...
Tentei chegar perto de ti, tu crescias e eu brinquei contigo. Embalei as tuas bonecas, partilhámos brincadeiras, jogámos jogos inventados por ambas. E comecei a contar-te estórias. Dei-te os meus livros de criança procurando vislumbrar, em ti, algum do fascínio que em mim brilhara, outrora. E vibrei quando ele surgiu. Falávamos de personagens como se falássemos de pessoas...
Durante a separação geográfica eu sorria quando te enviava pelos correios livros de banda desenhada que sabia apreciares. Escrevia-te. Esperava o Natal enfeitando o coração...
Cresceste, claro.
Agora és uma das pessoas mais autónomas que conheço.
E tens aquele traço de personalidade que tanto me confunde: a tua memória dos afectos é tão esbatida...Eu, que retenho pormenores que não lembram a ninguém, eu a quem os amigos pedem vou contar-te isto porque sei que não vais esquecer, por favor lembra-me quando eu claudicar/ precisar, espanto-me com a tua ausência de quinquilharia de lembrança emocional...Com vinte e poucos anos eu já tinha tantas e tantas gavetas cravejadas de memórias...
Quando o desespero te esmurrou esse rosto, tão suave, pediste-me desculpa e eu não percebi...nada tenho a desculpar-te além do teu desprendimento...E isso não carece de desculpa...Eu estendi-te a mão, declarei-me disponível (como se não o soubesses...) e recuei para tu fazeres o teu luto como preferiste.
Desculpa, hoje deu-me para a pieguice.
Talvez por ter estado recentemente em locais que ambas amámos, em simultâneo ou em tempos diversos.
Talvez por ter visto fotografias do teu crescimento.
Talvez por nunca teres aceite, depois de adolescente, o colo que tantas vezes te ofereci.
Continuação de uma boa estada nessa praia deslumbrante.
Amanhã irei a tua casa regar as plantas que tanto amas.
Um beijinho,
Dora
Segunda-feira, 2 de Agosto de 2004
Fazes anos hoje. E verificas no telemóvel se, por acaso, não existe nenhuma mensagem que te tenha escapado. A mesma mensagem de todos os anos, desde que ela decidiu afastar-se. Ainda assim, gostas de receber aquele pequeno sinal de que ela não se esqueceu. Tu esqueces-te sempre. Provavelmente nem sabes a data dos anos dela. Como nunca soubeste tantas pequenas coisas, sem importância. Como nunca soubeste que o amor é um acumulado de coisas sem importância que atinge o significado de toda uma vida.
Ela vai lembrar-se. Tarde, como se não fosse importante.
Para o C. que não vai ler, com um beijo e desejos de Feliz aniversário
Entre o pudor e a provocação
Existe o mundo dos sentimentos por dizer
Fechados, bloqueados nos lábios
A procurarem saída na doçura dos olhos
Ao pé do mar, dos barcos, da evasão
Para não ver os muros que se levantam
Se voltares vamos às ilhas
Ver se os barcos estão à nossa espera?
Mana, é apenas um bilhete escrito à pressa para te dizer que tive que adiar a minha viagem!
Custou-me, mas dadas as circunstâncias, não posso "abandonar" o barco. Sem discutirmos nada entre nós, unimo-nos e organizamos o serviço para que a Empresa continue a trabalhar. Somos pessoas válidas (apesar daquela noção idiota de que depois dos 30 anos é-se velho para trabalhar) e competentes.
Claro que vamos ter dúvidas e nem tudo vai correr às mil maravilhas. Mas estamos determinadas, vamos colaborar e fazer o possível para que resulte!!! Resta saber se do outro lado vai haver igualmente colaboração!!!
Ainda é muito cedo para falar!!! "O futuro a Deus pertence."
Um xi da tua mana
Domingo, 1 de Agosto de 2004
align=justify>Será possível ter saudades por antecipação?
Ainda não foste embora e já sinto a tua falta, imagino como será passar um mês sem poder falar contigo...
Não será a primeira vez que isto acontece. É o terceiro mês de Agosto que passo sem ti, em que todos os dias olho para o calendário, à espera que chegue o último dia. Mas cada vez, de ano para ano, se tem tornado mais difícil esta ausência.
Já sinto um vazio, aquele que terão todas estas noites sem ti, sem a tua companhia, sem as tuas palavras de amor...
Vou refugiar-me na escrita.
Vou enganar as saudades escrevendo-te mil palavras de amor. Vou escrever-te cartas em todo o lado, até no meu pensamento... será que as vais conseguir ler?
Aquelas que vou escrever a olhar as estrelas, as que vou escrever na areia molhada, as que vou ter guardadas à espera do teu regresso?
Cada palavra irá ficar guardada no amor que sinto por ti.
Volta depressa, volta para mim...
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