Sexta-feira, 11 de Junho de 2004
somos feitos de momentos vividos
estamos sós em ilhas povoadas de náufragos
chegam pombos correio de além terras
gritam gaivotas ais de amor de outros mares
deito-me na areia morna e suave
cheguei a casa
apago as estrelas da noite fantástica
ponho a dormir os anjos e as bruxas
acordo enfim
de olhos fechados sonho o dia em que
te escrevo cartas de amor sem palavras
apenas o som azul do mar
Quarta-feira, 9 de Junho de 2004
Minha amiga,
Tenho estado muito ausente. E tu, deste pela minha falta!...
É como se estivesse também ausente de mim. Só me apetece estar rodeada de nada, sem falar, sem conversar, nada! Fechar os olhos e ficar no silêncio.
Há momentos assim, servem de pausa. E eu... estou exausta! Verdadeiramente cansada de tudo e de todos... mortificada por esta luta interminável da sobrevivência diária, martirizada pela angústia dos dias que se seguem, pré-ocupada em problemas que ainda não chegaram.... De tal maneira que, de cada vez que me surge um obstáculo, ele tem a dimensão de um Adamastor e caio sob o peso do fantasma...
Tenho feito um esforço, mas a vontade não vem. Desapareceu o entusiasmo. Fugiu-me a cor dos lábios e o brilho dos olhos. Sinto um vazio "aqui" dentro. Esta, que te escreve, já não sou eu, diria Bocage, se tivesse nascido mulher.
Como é que te hei-de explicar isto?!
É como se a vida, de repente, perdesse o significado que tinha, e tem outro, mas não o consigo definir. Eu, eu que tu conheces, eu perdi o "meu significado".
Parece que nos últimos dias já me vou sentindo melhor, apesar de tudo. "Melhor", quer dizer: se estivéssemos a falar de uma doença, diria que a febre baixou e o apetite pelas coisas mundanas quer despontar. Mas é tão fraquinho...... E sinto-me tão pálida!
A vida será assim, pálida e tão cheia de nada e tão perdida de tudo?
Vê lá tu que um dia destes peguei no carro e meti-me à estrada, a conduzir sem destino, com as janelas abertas e o vento a bater-me nos olhos. Quando dei por mim, estava a ouvir La bohème, de Aznavour.
Meus Deus, senti-me tão.. tão... fly-away...! Tão esvoaçante, na estrada, a dançar sozinha e descalça, La bohème, La bohème, ... totalmente sozinha e descalça na estrada... e rodopiava, rodopiava.... La bohème....
O pior, amiga, o pior é que umas lágrimas magoadas saltarem-me cá para fora, voaram com o vento, e foi quando eu percebi que tinha envelhecido. Foi quando vi que a vida passara, e passa, sob as rodas do meu carro, e não vai para além da estrada... esta estrada que hoje escolho, que ontem escolhi, e que pode não ser o melhor caminho...
Sabes, isto não é adolescência, e ainda é cedo para ser menopausa, então o que será???
Para terminar, queria dizer-te que gostei imenso daquela tua imagem: "quem ama, protege", a propósito da flor. É totalmente verdade.
Tenho-te visitado, embora não me vejas.
Obrigada pelo teu apoio. Conta sempre comigo também.
Até breve, com um sorriso.
Fly-away
Terça-feira, 8 de Junho de 2004
Escreve-me uma carta. Eu sei que és daqueles para quem dizer amo-te custa mais que arrancar um dente. Então escreve. São duas palavras pequenas: eu pronome pessoal, primeira pessoa do singular; amo-te, presente do indicativo do verbo amar, etc
tu sabes. Tu sabes escrever mas não queres escrever. Não consegues. Falar dos teus sentimentos não é contigo. Escrever os teus sentimentos, também não.
Esperas talvez que eu adivinhe ou que os teus olhos falem mais que a tua boca. Eu nunca fui boa a ler algo nos olhos. Já me enganei demasiadas vezes. E também não tenho o dom da adivinhação.
Vou dar-te uma sugestão: vai à net, ali às 1001 cartas de amor, sedução, eróticas, etc. e copia. Escreve como se fosse de ti para mim. Eu vou acreditar, que diabo! Mesmo que não acredite, vou ficar feliz porque te deste ao trabalho de escrever. Cheguei a este ponto de querer que me digas que me amas, mesmo pelas palavras inventadas por alguém. O que eu não quero é que tu me deixes a tarefa de adivinhar aquilo que a minha insegurança me diz que é melhor não adivinhar.
Domingo, 6 de Junho de 2004
Estou exausta. Escrevo-te agora só para descomprimir um pouco. Porque será que és tu quem me ouve sempre, como se a minha boca se fechasse e eu fosse incapaz de dizer a outros aquilo que é realmente importante? Falo com toda a gente mas só tu me entendes. As minhas respostas encontro-as em ti, as minhas lágrimas só caem quando te escrevo. Choro pouco nestes dias. Já passou o tempo dos grandes desgostos que te contei. Agora a vida passa sem grandes sobressaltos, depois daquela decisão que tomei. Achas que fiz bem? Eu tinha que me afastar. Não tinha? Caramba, preciso de uma resposta. Preciso de ter a certeza. Porque talvez ainda vá a tempo
Talvez ainda seja possível recuperar
o quê? Não se pode recuperar o que nunca foi nosso. Mas talvez se possa recuperar a ilusão. Tu estás calado. Hoje estás particularmente calado. Logo hoje
Não serve para nada estar aqui a contar-te as minhas dúvidas. Vão permanecer dúvidas. Então, até amanhã.
(fecho o caderno, guardo a caneta e apago a luz).
Sábado, 5 de Junho de 2004
Este gato preto escreve cartas. E tem um blogue muito bonito chamado gato preto Escreveu uma carta e eu acho que deve ser lida. Quem sabe ela a lê aqui. Carta by gato preto
Olá querida,
Já lá vão alguns meses em que falámos, em que eu me declarei a ti, que te disse que eras o meu sonho. Nessa altura, estava tão nervoso que só parei de tremer uma hora depois. Tu ficaste sem saber o que dizer, mas até nem reagiste mal. Nunca foste muito boa a mostrar emoção, mas acho que ficaste surpreendida...e um bocadinho envaidecida. Acho que só te confirmei uma coisa que tu já sabias, apesar de teres dito que não. Disseste que o problema não era meu, mas que agora querias estar sozinha. Eu, como de costume, deixei o meu coração decidir em vez do cérebro, e fiquei na esperança de "talvez daqui a um tempo...quem sabe...". Quando pensava nisso, eu sabia o que querias dizer. Ou melhor, sabia o que não querias dizer...não me querias magoar, não me querias dizer na cara que nunca iria haver nada entre nós, apesar de ambos o sabermos.
Eu fiquei tão perdido, e todos me diziam "dá-lhe tempo...vais ver que ela reconsidera". E eu acreditei nisso. E antes disso, davamo-nos tão mal. E depois voltámos a falar como os melhores amigos que somos (fomos), e isso deu-me mais esperança. Entre nós...existia química. Não consigo explicar o teor dessa química, mas a verdade é que são poucas as pessoas que mexem comigo como tu mexes, e vice-versa (se é que posso ser um pouco convencido). E outro dia ficaste tão chateada comigo, por eu não ter partilhado contigo um momento tão especial. Eu comecei a achar que tinhamos mesmo algo de especial, mas também soube que me estive sempre a enganar.
Hoje, confirmei uma coisa que já suspeitava. Tens outra pessoa. Disseste que querias estar sozinha, mas afinal só não querias estar comigo. Queria-te odiar por isso mas não consigo. Só consigo por-me de joelhos a teus pés, e dizer-te que vou esperar o tempo que for preciso, porque te adoro mesmo, de uma maneira que nunca adorei ninguém. Talvez a relação que tenhas agora não seja séria.Talvez seja uma coisa passageira, porque sabes bem como eu a dificuldade que tens em mostrar as tuas emoções. Tens medo, e eu acho que por um tempo, fui imune a isso. Não tinhas medo de mim, não tinhas medo de me mostrar o que estavas a sentir. Tu própria o disseste, que o meu maior talento era conseguir-te tirar do sério. :)
Agora vejo-te feliz, sabendo exactamente porque razão é. E fico feliz, por tu estares feliz, apesar de ter muita pena de não ser eu a razão dessa felicidade. Ainda agora, quando escrevo estas palavras, não deixo de pensar no que estarás a fazer, com quem estás... não sei se são ciúmes, mas preferia que fosse comigo. Agora sinto-me enganado e traído, se calhar devia ter insistido mais, se calhar devia-te ter dito logo que te amo, mesmo sabendo que isso te iria assustar e que provavelmente nunca mais falavas comigo. Agora tenho a certeza (como sempre tive) que nunca vais ser mais que uma das minhas melhores amigas. E isso, embora não seja o que eu mais quero, deixa-me algo satisfeito, porque te vejo feliz. E se calhar, com esta história toda não tenho aproveitado a tua amizade como devia ser.
Há uma amiga que me diz que eu sou muito novo, e que me vou apaixonar montes e montes de vezes, mas eu acho que mesmo que isso aconteça, nunca vou conhecer ninguém como tu.
Agora que o nosso tempo de amigos mais chegados vai chegar ao fim, acho que não vais perder muito tempo a esquecer-me, ainda mais agora. Mas talvez seja melhor assim...talvez seja melhor apagar este fogo com uma explosão enorme, e que acabe tudo de vez.
Porque eu não sei mesmo o que fazer para te esquecer...
Sexta-feira, 4 de Junho de 2004
Carta nº 1:
Olá miúda
Porque não acredito que o poema tenha sido escrito para mim, e porque vives de afectos e eu afeiçoo-me com facilidade, porque tens vontade de engolir o mundo e eu de ser engolido por ele, porque consegues vislumbrar a minha alma e eu não sei sequer se tenho disso, por tanta coisa, que não me apetece estar a explicar nada!
Pausa para olhar para a lua e tentar encontrar alguma inspiração!
Achas normal? Achas natural que me sinta como se sente um miúdo de 10 anos que ganhou uma playsation nova e agora só quer aquilo? Já não sou um garoto, já tenho idade mais do que suficiente para me conter e atenuar estes desassossegos que me andas a provocar! E o pior de tudo é que te curto à brava! Já dou por mim a pensar em ti variadíssimas vezes ao dia! E à noite também, ainda agora que olhei para a lua me recordei do teu: -Sexta-feira é um dia redondo. Perfeito, como a lua cheia. Curioso
Pareceu-me ver lá desenhada a tua face!!! Estarei apaixonado? Poderei engravidar-te se te mandar muitos mails? Será altura de te apresentar aos meus pais? Estarei a descarrilar? Será sono, serás gente? Serás tu que estás lá em cima na lua? Serás tu o fenómeno que vi na noite passada nos céus? Será que demora a passar o efeito da cola? Será que o tabaco vai chegar até acabar de te escrever? Será que estes senhores simpáticos de branco vestidos que estão ali à porta me vão deixar acabar isto? Será que não estás cansada de ler parvoíces?
O gajo do andar de cima
Carta nº 2
Meu querido vizinho
Aprendi que a amizade é como uma flor que eu tenho num vaso em forma de bolbo em minha casa há alguns anos. Dá flor apenas uma vez por ano, uma flor vermelha lindíssima e que dura apenas uma semana. Amo aquela flor de uma forma intensa. E sei que ela está lá, mesmo que a dormir na terra durante todas as outras semanas do ano.
Durante a semana em que a flor está viçosa, ponho o vaso bem à minha vista e olho para ela todo o tempo em que estou em casa. Até lhe faço festas e dou-lhe sorrisos. Ela sabe que eu existo e eu sei que ela existe. Mas não pedimos nada uma à outra, eu não lhe ponho adubo, ela dura o tempo que lhe apetece.
Acabei de definir Amizade. Coisa estranha, esta ideia saiu agora, para ti.
A Vizinha das varandas floridas.
Num dia de paixão dei um beijo à chuva.... Ela gostou tanto que continuou a molhar-me toda
as pessoas geniais aparecem-nos de mansinho.
como as primeiras estrelas do crepúsculo
estamos ainda tão encandeados com a luz do sol que nem as olhamos.
quando damos conta, as pessoas geniais já ocuparam todo o nosso campo de visão
como as estrelas.
(dedicado a todas as pessoas geniais que fazem o favor de ser minhas estrelas)
Quinta-feira, 3 de Junho de 2004
Não me parece haver razão para não te dizer como és importante para mim. Mas não digo.
Não me parece haver razão para me afastar de ti. Mas afasto.
Não me parece haver razão para sorrir quando arranjo forças para te fugir. Mas sorrio.
Não me parece haver razão para não me querer lembrar de ti. Mas não quero.
Não me parece haver razão para querer mais do que me dás. Mas quero.
Não me parece haver razão para não estarmos juntos. Mas não estamos.
Não me parece haver razão para te escrever esta carta. Mas escrevo.
Terça-feira, 1 de Junho de 2004
Nota - Qualquer semelhança com a realidade é pura ilusão de óptica.
1ª carta
Meu querido.
Diz-me quanto me amas. Diz-me de que forma é o teu amor por mim. Amas-me como se eu fosse a primeira mulher do mundo? Amas-me como se fosses o último homem do mundo?
Amas-me por cima do mar, por cima das cores? Por cima de todas os riscos coloridos que traçamos juntos? Amas-me como se o meu risco fosse a tua vida?
Sempre tua.
2ªCarta
Caríssima.
Prefiro linhas, não alinho em riscos.
(também não gosto de advérbios intemporais, nem de possessivos mal empregues)
Hoje, Eu
