Quarta-feira, 30 de Junho de 2004

Escrevo-vos esta carta só para vos dizer que vos amo.
(Eu e mais uns quantos milhões de apaixonadas)
Espero que pensem em mim quando marcarem golos logo à tarde, tanto quanto eu penso em vós.
Um beijo
PS. só spero que não me chamem nem metade dos nomes feios que eu vos vou chamar se não acertarem na baliza dos holandeses....
Sábado, 26 de Junho de 2004
Vamos jogar um jogo de cartas?
Baralha bem os teus sentimentos
Vê se as palavras não estão viciadas
Decide já se o trunfo é amor
Vai distribuindo números sedutores
Eu colecciono vasas de paixão
Ambos sabemos que ao jogar os ases
Vamos pôr a nu qual a nossa mão
Sabemos que o jogo chegará ao fim
Todas as cartas serão reveladas
Quem vai ganhar ou sai perdedor
Continua incógnita no jogo do amor
Agradeço à Lolita por me ter lembrado que as cartas podem servir para escrever e para jogar. E que, como as cartas de jogar podem ser escritas , também as cartas escritas podem ser um jogo.
Sexta-feira, 25 de Junho de 2004
- Sabes, quando o sol se põe acontece uma magia, escreveu ele na sua melodia sabedora.
- Não sei, conta-me como é, respondeu ela com os olhos abertos de espanto.
- Escuta com a tua alma, escreveu a voz quente de sorrisos doces.
- Escuto com a paixão que tenho de aprender... leu ela para o resto da sua vida.
- Quando o sol se põe, há um minuto em que a natureza pára, ouve o teu momento... - foi o último encantamento de voz que ele lhe deu escrito em papel de seda.
Acreditei no momento que ele me ofereceu. Continua comigo nas horas em que me calo para me ouvir.
Quarta-feira, 23 de Junho de 2004
Meu caro Amanhã, como vais? Ou deverei dizer, quando vens? Ou ainda, virás?
Perdoa-me. Não pretendo ensombrar desde logo uma carta que pretende ser de bonança, mas tens de admitir, meu caro amigo desconhecido, que, depois de leres o que tenho para te dizer, todas estas questões se tornam válidas e pertinentes.
Escrevo para te contar do Ontem. Lembras-te dele? Sim, aquele que ficava sempre para trás. Como o escarnecíamos, meu deus! Éramos uns diabretes. Quando alguém perguntava por ele, lembras-te, estás recordado do que dizíamos? «O Ontem ficou no calendário!» Era uma paródia. O pobre, sempre resignado, comendo os restos. A pouco e pouco fomo-nos desligando dele, eu quase o esqueci, até Ontem. Vês, tudo bate certo. Ontem recebi um postal do Ontem. Continua fora de tempo, sempre a viver para trás. Não, por favor, não te rias, o assunto é sério, e eu escusava ter feito este comentário juvenil idiota.
Diz ele que está velho, dorido, gordo de tanto enfardar com tudo o que nós vamos deixando pelo caminho. Diz que eu sou inconsequente por te seguir, ou anteceder, cegamente, como se tu, Amanhã, fosses imortal. De princípio achei que a velhice lhe trouxera também a senilidade, a repulsa pelo progresso, um tanto ao jeito do velho do Restelo. Mas depois, de noite, na minha cama, enquanto esperava pela tua chegada, fui assaltado por certas dúvidas, temores que nunca me tinham passado pela cabeça.
É que, no postal, o Ontem desafiou-me, desafiou a minha crença em ti. E olha que me assustou. Sabes o que me disse? Que tu não passas de uma farsa. Vê-me bem a ousadia do tipo! Liguei-lhe. Isso mesmo. Liguei-lhe e convidei-o para tomar um copo, para conversarmos, quis esclarecer o assunto, talvez dar-lhe um conselho, sugerir um psiquiatra, quem sabe. Nada feito. Chamou-me nulidade flutuante e propenso a acabar em lado nenhum. Pedi-lhe que se explicasse melhor. Sabes o que me respondeu? Que eu sou uma ponte para nenhures. Que ele é uma margem, eu um pedaço de ferro frouxo que todos espezinham desnorteados, e tu
, bem, tu não és senão o delírio máximo da vaidade, não és senão as cores aos olhos de um cego. Que atrevido!
Mas, de qualquer forma, em nome dos velhos tempos, em nome de todos os Ontem, meu caro Amanhã, faço o que lhe prometi: escrevo-te. Assim é. O nosso amigo pediu-me que te contactasse para tirar todas as dúvidas. As dele, não minhas, atenção, que eu acredito. Pois aqui estou. Preciso de uma prova da tua existência para lhe esfregar na cara.
Enquanto espero pela tua resposta, sento-me aqui, nesta esplanada, olhando com confiança as pessoas que passam em direcção ao futuro.
O sempre teu, Hoje.
Terça-feira, 22 de Junho de 2004
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Quem, que seja português,
pode viver a estreiteza
de uma só personalidade,
de uma só nação,
de uma só fé?
Fernando Pessoa
Segunda-feira, 21 de Junho de 2004
Nas cartas de amor
Há sempre um início
Infeliz
Meu ()
Meu querido
Meu eterno amor
Nas cartas de amor
Há sempre um final
Triste
Tua ()
Sempre tua
Eternamente tua
Quero cartas de amor
Felizes
Para ti que não és meu
De mim que não sou tua
Alguém será de alguém?
Quinta-feira, 17 de Junho de 2004
Hoje está calor. Abro a minha janela. Oiço frases masculinas que se perdem e se cruzam por entre os acordes do Tango Argentino que voa pela janela deles.
-"Serve-me daquele vinho"
não confundas o copo com uma nuvem"
"as rosas são oriundas das plantas selvagens" frases sem sentido, ouvidas para além dos sonhos da noite em branco desenhada.
Sei que amanhã haverá uma carta no correio deste homem. Será assim:
Querido,
Serve-me do teu vinho esta noite, amante das horas perdidas, feito dos meus sonhos cor-de-rosa. Deita suavemente a cor rubra do teu vinho no meu cálice de cristal. Não confundas o meu corpo com uma miragem, afaga-o com se fossem pétalas de uma rosa, esmaga a sua cor e deita-a no vinho. Não quero saber de que país, as rosas fizeram a sua atávica viagem até mim...Nem quero saber por que mares cor de vinho navegaram.
Só quero saber como trouxeste a minha até mim.
Sempre tua, eterna e terna
Paixão
Terça-feira, 15 de Junho de 2004
É assim: preciso ter a certeza que não me falhas! Há coisas na vida que nós precisamos de dar como adquiridas. Ter um PC sem problemas emocionais é uma das mais importantes. A sério, sei que se alguma coisa te acontecer vou ficar desesperada, a pensar como vou recuperar memórias que te dei e me esqueci de partilhar com outro companheiro. Também vou deixar de escrever, de trabalhar, tu és o meu suporte para tudo isso. Preciso do teu apoio. Imagina que te acontece alguma coisa definitiva
Nem quero pensar nisso. Como ia eu encarar a hipótese de ter que partilhar a minha vida e o meu trabalho com outro? Esta angústia não me larga. Cada vez que me falas de erros fatais fico tão assustada que me baralho toda e acabo por cortar a minha ligação contigo. A seguir recomeço mas acho sempre que algo se quebrou entre nós. E há a questão dos ciúmes. Parece-me que por vezes finges que tens problemas só para não me deixares contactar com os amigos. Isso é feio. Depois voltas ao normal como se nada tivesse acontecido. Diz lá, como é possível viver assim? Claro que não vais responder, acho mesmo que hoje vai ser um dia em que resolveste fazer da resistência passiva a tua arma contra mim. Seja o que for que te peça, fá-lo-ás com uma tal lentidão que eu vou acabar por me exasperar. E, de repente, tudo ficará bem. É sempre assim. Sinto que a nossa ligação vai ter que acabar. O triste é que eu não posso viver contigo nem sem ti. Dás-me um sinal? Ah, finalmente conseguiste abrir o raio do documento que eu precisava
.
Domingo, 13 de Junho de 2004
Gosto de abrir a caixa do correio. Faço-o devagar, como se esperasse sempre um pequeno raio de sol, só para mim
Hoje a caixinha estava toda cheia de azul
Carta nº 1: Olá Miúda,
Esta noite, sob a almofada à tua espera, deixei um beijinho afectuoso e demorado para que possas experimentar o paladar da saudade que sinto.
E agora, sonha com luas cheias de meiguice, quartos crescentes de paixões, e luas novas de amores! E no sonho ganha asas e voa até mim.
E sorri! (já te disse que tens um sorriso que é de derreter um pedaço de aço?)
E queria adormecer contigo....Queria passar a noite contigo! Nem que fosse só a acariciar-te os pés e a ouvir-te respirar!
O gajo do andar de cima
Carta nº 2 Meu querido vizinho,
Li a tua carta.
Mando pela janela apenas beijos que gostaria de te dar...
e fazia-te um poema
e transformava os beijos em metáforas indizíveis,
e inventava-te outras palavras
e o teu corpo era o mar que me beijava,
e tatuava o meu nome na tua pele,
e os meus beijos eram os raios de sol que te aqueciam...
Mas se nos beijássemos, não teríamos outro dia amanhã.... Ofuscávamos o Sol, nesse momento.
A Vizinha das varandas floridas.

Sexta-feira, 11 de Junho de 2004
Vai-me desculpar dirigir-me assim a si, sem mais nem menos. Sei que não gosta muito de assédio da imprensa, mas garanto-lhe que não se trata de nada disso. O problema é que, desde há dois, três dias, a minha rua encheu-se de bandeiras portuguesas nas janelas. Eu nunca tinha visto nada disto e até pensei que fosse qualquer iniciativa por causa do dia 10 de Junho, aquele que é de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas. Mas afinal não era por isso. Fui ao café lá da minha rua e perguntei ao Sr. João porque era aquela abundância de bandeiras (aliás ele também tinha uma grande na parede e mais três pequenas no balcão). Claro que fiz figura de parva porque vai daí o Sr. João disse-me:
-Então a senhora não sabe? Foi o seleccionador nacional que sugeriu que fizéssemos isto para apoiar a selecção. Ai, a senhora anda mesmo despistada
Eu cheguei a casa e confirmei com as minhas filhas que o seleccionador nacional se chamava Scolari e era brasileiro. Desculpe a ignorância, eu não vou muito à bola com futebol
. E fiquei a pensar como é que uma simples frase sua levou de repente Portugal inteiro a ter orgulho de ter nas janelas a bandeira nacional. Passou-me pela cabeça que algo está errado neste país, claro, mas não é por isso que lhe estou a escrever. É que o povo português embandeirou por sua causa. Agora faça-me o favor de fazer esses senhores com quem trabalha ganhar ao menos o jogo de amanhã, para que as bandeiras possam ficar e as pessoas as olhem sem mágoa
mais uma mágoa neste país que já tem tantas. Muito agradecida pela atenção.