Domingo, 6 de Junho de 2004
Estou exausta. Escrevo-te agora só para descomprimir um pouco. Porque será que és tu quem me ouve sempre, como se a minha boca se fechasse e eu fosse incapaz de dizer a outros aquilo que é realmente importante? Falo com toda a gente mas só tu me entendes. As minhas respostas encontro-as em ti, as minhas lágrimas só caem quando te escrevo. Choro pouco nestes dias. Já passou o tempo dos grandes desgostos que te contei. Agora a vida passa sem grandes sobressaltos, depois daquela decisão que tomei. Achas que fiz bem? Eu tinha que me afastar. Não tinha? Caramba, preciso de uma resposta. Preciso de ter a certeza. Porque talvez ainda vá a tempo
Talvez ainda seja possível recuperar
o quê? Não se pode recuperar o que nunca foi nosso. Mas talvez se possa recuperar a ilusão. Tu estás calado. Hoje estás particularmente calado. Logo hoje
Não serve para nada estar aqui a contar-te as minhas dúvidas. Vão permanecer dúvidas. Então, até amanhã.
(fecho o caderno, guardo a caneta e apago a luz).